Dicionário de agência digital : Entre Novos Nomes e Velhos Conceitos
Autor: Diene Araujo
Em minha experiência como profissional de marketing, uma prática recorrente tem sido notável e digna de análise: a renomeação de conceitos já estabelecidos, que são então reintroduzidos ao mercado como novidades revolucionárias. Esse fenômeno não apenas reflete a criatividade inerente ao campo do marketing, mas também expõe lacunas na estratégia e maturidade de algumas empresas.
A Prática de Reclassificar Conceitos
No dinâmico mundo do marketing, antigos métodos são frequentemente repaginados com novos nomes e vendidos como se fossem descobertas recentes. Esta estratégia de renomeação, embora criativa, muitas vezes mascara a falta de inovação verdadeira e pode revelar a ausência de um acompanhamento estratégico por parte das empresas.
Exemplos de Termos Repaginados
- MPI (Marketing de Posicionamento na Internet): Essencialmente o que conhecemos como SEO (Search Engine Optimization), o MPI enfatiza a importância da visibilidade online. Embora a estratégia subjacente — otimizar conteúdo para motores de busca — permaneça a mesma, o novo nome pode reenergizar o interesse pela prática.
- ICM (Inbound Content Marketing): Uma reformulação do marketing de conteúdo, focando na criação de conteúdo destinado a atrair o cliente de forma não intrusiva, mantendo a essência do método original.
- Growth Hacking: Apesar de apresentado como uma novidade, principalmente em startups, muitas das técnicas de growth hacking são variações de práticas de marketing direto antigas, adaptadas ao ambiente digital rápido de hoje.
- Marketing de Engajamento: Refrescando o conceito de marketing relacional, este termo busca sublinhar a criação de uma conexão emocional e contínua com o consumidor.
- Customer Success: Evoluindo do CRM, o termo reflete um foco renovado no sucesso do cliente como um indicativo do sucesso da empresa, enfatizando uma abordagem mais proativa.
- Neuromarketing: Embora soe como uma nova fronteira, o neuromarketing é essencialmente uma aplicação de técnicas neurológicas para entender melhor o comportamento do consumidor, uma prática que se alinha estreitamente com estudos de comportamento tradicionais.
O Impacto dos Anglicismos
A adoção de termos em inglês é outra tendência marcante no marketing brasileiro. Expressões como “branding”, “feedback”, “layout””B2B“, e “deadline” são comuns no jargão profissional, apesar da existência de equivalentes em português. Essa preferência pode conferir um ar de modernidade e globalização às comunicações, mas também pode alienar parte do público e complicar a comunicação interna nas empresas.
A percepção é que o inglês, como língua franca global, carrega um prestígio que o português não teria; no entanto, esse uso excessivo pode ser visto como uma barreira à compreensão e uma forma de exclusão para aqueles que não dominam a língua.
A Importância da Inovação Real
Como profissionais de marketing, é crucial questionar constantemente a substância por trás das novas tendências e terminologias. Enquanto a renovação de termos pode trazer nova vida a conceitos estabelecidos, é vital não substituir inovação autêntica com simples mudanças de nome. A verdadeira inovação deve trazer melhorias tangíveis que gerem valor tanto para as empresas quanto para os consumidores.
Além disso, é fundamental que as empresas invistam em educação contínua e desenvolvimento profissional em suas equipes de marketing. Compreender profundamente as tendências, separar fato de ficção e aplicar estrategicamente verdadeiras inovações são etapas essenciais para manter a relevância e eficácia em um mercado competitivo.
Conclusão
A renomeação de práticas de marketing, embora possa ser uma ferramenta útil para reengajar e educar o mercado, não deve ser confundida com inovação genuína. A indústria de marketing deve esforçar-se para além da superficialidade dos termos e buscar continuamente verdadeiras inovações que antecipem e moldem as necessidades dos consumidores e do mercado. Afinal, o valor real não está nos termos que usamos, mas no impacto real que conseguimos criar através de nosso trabalho.